FORMAÇÃO REFLEXIVA DE PROFESSORES: IDÉIAS E PRÁTICAS

11/25/2016 , , 0 Comentarios

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Profa. Maura Bolfer

Zeichner (1993) me fez pensar muito sobre meu fazer pedagógico, meu fazer enquanto coordenadora e professora de curso de formação de professores. Me fez olhar para mim mesma, para meu cotidiano que vislumbra, via profissionalização do professor, uma sociedade mais justa. Como fazer para que isso não seja apenas um slogan, mas de fato uma prática significativa para mim e para minhas alunas? Em que medida aceito as coisas que estão na moda, ou impostas pela legislação, sem ter a certeza de que esse é o melhor caminho?

imagem: Shutterstock
Percebo, à luz das ideias de Dewey, que em minha prática docente me aproximo muito mais de uma “ação reflexiva” do que de uma “ação rotineira”, porque acredito que reflexão “implica intuição, emoção e paixão” (ZEICHNER, 1993, p. 18) aliada aos conhecimentos técnicos/acadêmicos e à busca de soluções lógicas e racionais. Por conta disso, fico buscando a abertura de espírito, a responsabilidade e a sinceridade para que essa ação se concretize na sala de aula, espaço de atividade e de conflito.

Ao pensar nisso é preciso ressaltar concepções arraigadas ao “bom ensino” que precisa levar em conta “a representação das disciplinas, o pensamento e compreensão dos alunos, as estratégias de ensino sugeridas pela investigação e as conseqüências sociais e os contextos de ensino” (ZEICHNER, 1993: 25). É isso, de certa forma, que dará cor ao trabalho e à prática reflexiva.

Proposições Possíveis na Formação de Professores
Algumas idéias apresentadas por Zeichner (1993) apontam uma saída factível e que contribuem positivamente na formação de professores: ver os professores enquanto produtores de saber: estudo de situações vividas em sala de aula e inclusão de relatos/trabalhos de professores para leitura e reflexão;

• Utilizar-se de instrumentos que facilitem o encaminhamento para a reflexão do professor;
• Conscientizar e valorizar os compromissos educacionais e políticos do professor;
• Incluir os conceitos de ensino reflexivo a partir das  cinco dimensões, apontadas por Calderhead: o processo de reflexão, o conteúdo da reflexão, as condições prévias à reflexão, o produto da reflexão e a forma como os conceitos são justificados;
• Considerar “a reflexão como instrumento de mediação da acção, na qual se usa o conhecimento para orientar a prática; a reflexão como modo de optar entre visões do ensino em conflito, na qual se usa o conhecimento na informação da prática e a reflexão como uma experiência de reconstrução, na qual se usa o conhecimento como forma de auxiliar os professores a apreender e a transformar a prática” (ZEICHNER, 1993, p. 32).

As tradições de prática reflexiva nos programas de formação de professores. O estudo dessas tradições (acadêmica, de eficiência social, desenvolvimentista e de reconstrução social) nos faz entender como tem se processado as propostas e a formação de professores nos últimos anos e, a partir delas, como podemos olhar para a ação docente.

A “tradição acadêmica” nos mostra uma ênfase nas disciplinas acadêmicas tradicionais, quase sempre desconectadas do fazer docente, partindo do princípio de que aquele que detém o conhecimento é capaz de ter uma ação docente eficaz.

A “tradição de eficiência social” nos mostra o “poder do estudo científico do ensino para o estabelecimento da base da construção curricular da formação de professores” (ZEICHNER, 1993, p. 39), valorizando a base nas competências/desempenhos. Aponta uma certa previsibilidade da ação docente a partir de prévia definição de saberes e capacidades a serem dominados pelos futuros professores.

A “tradição desenvolvimentista” nos aponta como caminho uma formação centrada no aluno, uma formação humanista. Essa formação leva à formação do professor, enquanto naturalista, artista e investigador. Enquanto naturalista, a partir daquilo que observa em seus alunos é que constrói o currículo e propõe um ambiente de aprendizagem favorável à aprendizagem. Enquanto artista, faz uso de conhecimentos da psicologia do desenvolvimento para pensar em estratégias de ensino e aprendizagem que revelem a criatividade, o questionamento e a abertura de pensamento. Enquanto investigador apresenta atitude experimental em relação à sua prática.

A “tradição de reconstrução social” encontra forças na possibilidade de construção de uma sociedade mais justa e humana. Valoriza-se o pensamento crítico enquanto possibilidade de pensar a ordem social, as implicações sociais e políticas da ação docente na comunidade na qual está inserida.
É possível dizer que nos programas de formação docente, quer seja na licenciatura em Pedagogia ou nos cursos de formação continuada da WlaSan pautamo-nos nas tradições desenvolvimentista e de reconstrução social.

Referência Bibliográfica
ZEICHNER, Kenneth M. O professor como prático reflexivo e Concepções de prática reflexiva no ensino e na formação de professores. In: ZEICHNER, Kenneth M. A formação reflexiva de professores: ideias e práticas. Lisboa: Educa, 1993
Faculdade WlaSan

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